
Foto: Arquivo SER+
Mais de 80 mil pessoas receberam o impacto positivo dos programas e projetos de extensão ativos nas instituições de ensino superior (IES) que integram o Grupo UBEC em 2014.
As diferentes propostas de trabalho junto às comunidades que convivem direta e indiretamente com as IES têm em comum levar um pouco do que aprendem no ambiente acadêmico e o que trazem da vida para promover a troca de saberes com a sociedade. É uma oportunidade de vivência das questões que os acadêmicos enfrentarão após graduados e que, provavelmente, não teriam sem o engajamento nestas atividades. Vistos como complementação pedagógica os programas e projetos de extensão contribuem com a formação profissional.
O ensino superior percebido como um local para o desenvolvimento de conhecimento e experimentação norteia as IES integradas à UBEC e estas organizações propõem aos alunos a formação além da simples transferência de conteúdo. Estas ações trazem em seu conjunto o cumprimento da missão do Grupo e das diretrizes institucionais de ensino superior que determinam a indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão.
Universidade Católica de Brasília (UCB), Universidade Católica do Leste de Minas (Unileste), Faculdade Católica do Tocantins e Faculdade Marista Recife mantiveram ativos, no ano passado, diferentes programas e projetos com envolvimento da comunidade.
Repensar valores – A UCB desenvolveu, no último ano, 27 projetos e atividades extensionistas relacionados aos cursos de formação acadêmica. Com essas ações, envolveram-se 3.483 estudantes e 267 professores que beneficiaram mais de 48 mil pessoas por meio de mais de 54 mil atendimentos.
Os programas de extensão aproximam o universo acadêmico das comunidades.
Para o gestor do programa SER +, professor Danilo Borges Dias, a proposta dos programas de extensão vai ao encontro da missão da Universidade que é fazer o estudante repensar valores, onde o individualismo é muito presente, e até mesmo reorientar a formação profissional a partir da vivência que permite trabalhar uma nova perspectiva sobre o impacto do que é feito na vida das pessoas. Após a experiência, o professor percebe, entre os cerca de 500 alunos que passam nas atividades a cada semestre, “um estudante mais consciente do papel da universidade, da sua formação e da realidade em que vive. Alguns têm olhar mais sensível para condições sociais e relacionam rapidamente o saber científico com o popular, compreendendo a complementaridade”. O importante, salienta, é tornar-se atento às desigualdades. Borges Dias conta que alguns alunos são convidados a transformar estas vivências em “resultados acadêmicos” para apresentar em eventos. Nessas trocas, um ponto valorizado é o de relacionar as atividades, nas comunidades, com os oito objetivos do milênio. Assim, durante a participação no programa de extensão, o aluno deve evidenciar como sua ação pode ser mesurada considerando o impacto em alguma das metas que o mundo deve cumprir também na agenda pós-2015.
Na UCB, o acadêmico participa de algum programa no decorrer do curso e, por meio desta atividade, cumpre horas complementares. A quantidade de horas varia conforme o curso. Neste período, o aluno é convidado a sair da área física da universidade para estar em contato com alguma comunidade parceira, conhecer suas questões fundamentais e sugerir atividades como solução para demandas identificadas.
O SER+ atua com cerca de 30 comunidades com diferentes recortes sociais, diz o gestor relacionando públicos em vulnerabilidade social, moradores de asilos, creches, dependentes químicos, migrantes, refugiados entre outros. Dias explica que após o lançamento do edital, no início do período letivo, o estudante escolhe a instituição e passa por uma formação geral. Nesta etapa é explicada a dinâmica da experiência, as abordagens feitas aos participantes das comunidades, os cuidados éticos. É fundamental que o aluno amplie o poder de leitura da realidade e questione o papel da universidade neste contexto, frisa.

Foto: Arquivo CCI
Idade ativa – Também da UCB, o programa Centro de Convivência do Idoso (CCI) tem como critério receber maiores de 60 anos de idade para lhes proporcionar atividades de convivência e terapêuticas uma vez que os gestores acreditam na capacidade preventiva desta aproximação social. Assim a programação vai desde a musculação a uma adaptação da capoeira, chamada capoterapia, pilates, ginástica oriental, hidroginástica e natação, passando pelo coral, o artesanato, que permite uma renda extra ao idoso, além de retratos da idade, a qual visa acessar a mente e estimular a reflexão por meio de conversas. “É um diálogo”, segundo a analista do projeto, Miracema Torres, que é psicóloga e registra que este quadro deve ser conduzido por um profissional com essa formação.
O programa oferece ainda aulas de inglês e espanhol com a colaboração de alunos do curso de Letras. “Há pais de pessoas que moram no exterior, o idioma passa a ser necessidade”, explica.
O atendimento à comunidade a cada semestre relaciona-se à disponibilidade de orçamento. Em 2014, cerca de 420 idosos foram alcançados. A analista relata que o aluno participante contabiliza horas de trabalho extraclasse. “Trabalhamos com um foco social, no primeiro momento, e também como um paliativo aos problemas que rondam esta faixa etária”, explica a psicóloga ao citar comentários dos participantes de que o programa lhes tirou a bengala ao sugerir novos objetivos de vida.
Percebemos que alguns estudantes procuram continuar, como se tivessem se encontrado com a profissão escolhida. A troca de informações entre o idoso e o jovem permite ao estudante aprender além do mundo acadêmico, exercitar a paciência e levar para o ambiente familiar este aprendizado.
Descobrindo a leitura – Com 12 voluntários, o programa Alfabetização Cidadã, também da UCB, têm como proposta atender a comunidade discente e externa para alfabetizar jovens e adultos a partir dos 18 anos de idade. É requisito ser analfabeto total e carente. As turmas reúnem-se em locais de difícil acesso viabilizados pela comunidade.
A gestora do projeto, Gleice Amélia Gomes de Lemos, registra que na cidade satélite do Distrito Federal chamada Varjão (50 mil habitantes) uma biblioteca foi montada pelo programa. Além da alfabetização de jovens e adultos, a capacitação de novos alfabetizadores é uma das metas. A Alfabetização Cidadã oferece estágios supervisionados. A maioria são alunos de Letras e Pedagogia, mas também há alunos do Direito. O projeto propõe-se a ser uma fonte de geração de material de pesquisa para artigos e trabalhos de conclusão de curso e “há uma preocupação em deixar claro que o objetivo não é assistencialista”.
Na equipe do Programa criado em 1997, pelo Padre Décio, o alfabetizador dedica-se a turma três vezes por semana. Ao final, o integrante da comunidade recebeu 270 horas de aula. “É um programa social e queremos que o impacto alcance as cidades satélites como uma alternativa de inclusão social. Alguns iniciaram a alfabetização aqui e agora frequentam a escola regular”, destaca a gestora. Ela explica que o Programa firmou parcerias buscando sustentabilidade. Atualmente, o Rotary Club, do Distrito 4530, que tem 14 secções, apoia as turmas. Em 2014, o Programa firmou uma parceria com a Sustentare, empresa de limpeza urbana do Distrito Federal, e alfabetizou 82 garis.

Foto: Arquivo Rondon
Mergulho na realidade – Com certificados emitidos pelo Ministério da Defesa e que também contam como horas extraclasse, o Projeto Rondon envolve anualmente 16 alunos da UCB, que têm se classificado para participar das duas edições anuais deste relevante grupo multidisciplinar voltado ao atendimento de comunidades no Brasil. “O foco do Rondon é o aluno, mudar a percepção de mundo em 16 dias”, reforça o professor Marcos Vinícius Vasconcelos Cerqueira, que já esteve em nove edições com estudantes da UCB, e lembra que após este mergulho em uma realidade desconhecida, muitos alteram seus caminhos profissionais.
A gestora do Rondon na UCB, professora Fabiana Nunes Carvalho, conta que a Universidade foi pioneira da retomada do Rondon em duas oportunidades. A primeira, no grupo formado para fazer o diagnóstico em 2005. Depois, em 2012, quando apresentou um projeto de cobertura jornalística com professores e alunos do curso de Comunicação. “O resultado foi tão expressivo que as outras instituições de ensino passaram a reivindicar o direito de fazer a cobertura”, vibra Fabiana ao ressaltar que este ano uma equipe da Comunicação retornou ao Rondon a convite do Ministério da Defesa.
“O acadêmico que vai ao Rondon conhece um novo canal de engajamento social, uma realidade que os livros não mostram”, sintetiza. A proposta é formar replicadores de conhecimento no município e não ser assistencialista, também reitera Cerqueira. Ele avalia que em torno de 800 a mil pessoas são impactadas diretamente pelas oficinas, palestras, roda de conversa e atividades promovidas com as comunidades a cada edição. Há uma interdisciplinaridade envolvida no Rondon que garante um retorno muito rico à formação do acadêmico, diz lembrando que as comunidades alcançadas são de Índice de Desenvolvimento Humano baixo.

Foto: Comunicação Unileste
Profissional completo – No Unileste (MG) o gestor de projetos de extensão, Professor Leonardo Ramos Paes de Lima, espera que um profissional mais completo com base de formação forte vá para o mercado devido à aplicação dos conhecimentos adquiridos em aula mesclados à pesquisa. A participação dos alunos na extensão conta horas complementares e a maioria das vivências tem duração de um ano. Os editais para as inscrições aos cursos são abertos em fevereiro e os alunos podem participar simultaneamente de até três projetos.
No último ano, o Unileste manteve 49 projetos ativos, a maioria de iniciativa de professores do centro universitário nas áreas de cidadania, saúde, infância, adolescência, apoio à educação básica, cultura, arte, empreendedorismo, ciência, tecnologia, esporte, lazer e meio ambiente, todos vinculados às escolas de Saúde, Politécnica, Negócios, Educação e Direito. Durante o curso são elaborados relatórios e enviados aos professores com avaliação do desempenho dos alunos.
“Participar dos projetos de extensão é uma prática importante para a formação, porque o aluno leva o conhecimento além dos muros da universidade e chega à comunidade”, considera Paes de Lima ao relatar o caso de representantes de uma comunidade que procuraram o Unileste solicitando alguém para orientar as pessoas a usarem os aparelhos públicos de ginástica instalados nos parques e praças. Agora, temos o Projeto de Academia e direcionamos um aluno para executá-lo com a comunidade, em especial com idosos, três vezes por semana, enfatiza.
Em Coronel Fabriciano (MG), onde está um dos campi do Unileste, o Rotary Clube local também é parceiro dos projetos de extensão, além do Cenibra e outras empresas que procuram o Centro Universitário com questões pontuais. Dependendo do projeto, os parceiros arcam com o valor da bolsa e os participantes são remunerados com abatimentos nas mensalidades. É o que ocorre com o projeto Informática Solidária (Infosol) no qual os acadêmicos vão a uma escola pública de ensino básico e ensinam matemática no computador. Repassam conhecimentos para usar uma planilha de Excell.
Em 2014, no Unileste, 85 professores e 825 alunos do Ensino Superior envolveram-se em ações comunitárias propiciadas pelos projetos de extensão que impactaram 29.891 pessoas diretamente, informa Paes de Lima.

Foto: Ingergleice de Oliveira/Católica-TO
Democratização do conhecimento – Na Católica do Tocantins, cada um dos 11 projetos de extensão elaborados pelos professores recebeu em média dois alunos para desenvolvê-los em 2014, completando 23 acadêmicos em vivências nas diferentes áreas relacionadas aos cursos da Faculdade.
A gestora, Arlenes Delabary Spada, entende a participação dos alunos como parte do processo de formação profissional e pessoal. Ela lembra que “a democratização do conhecimento acadêmico, o desenvolvimento regional, econômico, social e cultural fazem parte da missão da Católica do Tocantins e a extensão é mais uma das formas de implementá-la”, assegura.
Os alunos devem cumprir algumas exigências como estar regularmente matriculados, ter bom desempenho acadêmico, não estar no último período do curso, ter disponibilidade de 20 horas semanais para dedicar à extensão, ter Currículo Lattes cadastrado no CNPq, não acumular bolsa, ter conhecimentos básicos em informática e apresentar os resultados de extensão sob a forma de relatórios, artigo aprovado em evento nacional ou revista indexada e apresentar trabalho na Jornada de Iniciação Científica e de Extensão da Faculdade. Os resumos expandidos são publicados nos Anais da Jornada de Iniciação Científica e de Extensão e em forma de artigos na Revista Integralização Universitária (RIU), publicação da IES.
Na prática, as atividades do projeto de extensão, que existe desde 2003, são divididas entre os bolsistas e o orientador. Os projetos de extensão visam auxiliar a comunidade em geral, dividida em três linhas: Desenvolvimento Sustentável, Tecnologia, comunicação e inovação e Redes de Cooperação.
No ano passado, pelos cálculos da professora Arlenes, mais de 150 famílias receberam algum impacto positivo a partir das atividades dos projetos de extensão. Considerando cada família com média de cinco integrantes, foram 750 pessoas. Ela destaca os projetos de Assistência Técnica em Hortas Comunitárias, Viveiro de mudas e de Orientação e Capacitação Zootécnica aos piscicultores do loteamento Coqueirinho.
Zootecnia e Agronomia – A extensão da Católica do Tocantins conduz o aluno a participar de projetos relacionados à área de formação específica. São cerca de cem horas do curso dedicadas à extensão. Arlenes considera que, mesmo não sendo obrigatória a atividade de extensão, “este é um dos momentos em que podemos visualizar a indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão, pois o que foi visto em sala será aplicado na comunidade”. Ao concluir a participação, o aluno recebe certificado com carga horária proporcional ao tempo dedicado ao projeto ou etapa executada. A gestora destaca entre os resultados de 2014 a reabilitação de internas, a promoção da educação ambiental e sustentabilidade, a regularização ambiental e sanitária e a inovação em tecnologia produtiva.
O orientador do projeto de capacitação zootécnica a piscicultores de Palmas e região, professor José Lopes Soares Neto, assinala que contribuir para a regularização sanitária e ambiental, além de aprimorar as técnicas de produtividade são metas que impactaram pelo menos 30 piscicultores diretamente no ano passado. No decorrer da execução das atividades de extensão, piscicultores e acadêmicos do curso de Zootecnia, participaram de “Dia de Campo” promovido pela Católica do Tocantins e receberam cartilha elaborada pelos acadêmicos, constando boas práticas e condutas zootécnicas, sanitárias e ambientais.
Outro retorno específico vem do curso de Agronomia. O projeto de extensão de 2014, identificado como Assistência Técnica em Hortas Comunitárias no Município de Palmas, foi realizado em duas modalidades sob orientação da professora Ingergleice Machado de Oliveira. Inicialmente, duas hortas comunitárias foram trabalhadas, impactando 30 famílias com assistência técnica e acompanhamento da produção por parte dos acadêmicos do 7º período. A comunidade também foi beneficiada indiretamente, podendo adquirir produtos de qualidade. Já a segunda modalidade, alcançou dez internas do Centro de Recuperação da Fazenda da Esperança Feminina. Nessa, o trabalho da horta proporcionou a reintegração à sociedade, melhoria na qualidade alimentar e comercialização da produção excedente, avalia Ingergleice.

Foto: Comunicação FMR
Engajamento social – A Faculdade Marista Recife, integrada ao Grupo UBEC este ano, trouxe na bagagem dois programas sociais realizados desde 2005, o Dia da Responsabilidade Social e a Gincana Marista. A Gincana integra alunos, professores e funcionários em equipes de competição que se dedicam à arrecadação de produtos para comunidades previamente identificadas como beneficiárias a cada ano. Essas comunidades são visitadas e um levantamento de necessidades é realizado pelos alunos previamente. No ano passado, o Asilo Instituto Padre Venâncio, que tem 80 moradores, foi o beneficiado com a ação de 40 alunos envolvidos. Na Gincana, angariar estes itens que vão desde material de higiene pessoal a roupas passando por livros e alimentos, é parte das tarefas integradas a atividades físicas durante um dia inteiro, explica a coordenadora das ações, professora Angélica Martins.
Já o Dia da Responsabilidade Social, promovido anualmente pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), envolve os alunos do Direito e da Administração mais ativamente e conta horas de atividade extraclasse. Nesta ação, a Marista Recife oferece cursos para a comunidade e orientações básicas sobre direito do consumidor, direito do idoso, questões de pensão alimentícia, retirada de segunda via de documentos, como agir diante de uma briga de vizinhos entre outras respostas às demandas da sociedade.
Os acadêmicos montam oficinas e as oferecem à comunidade. Cerca de 80% a 90% dos discentes envolve-se nestas atividades em que são desenvolvidas dinâmicas para transmitir as informações. Desde conversas a peças de teatro são táticas. Cerca de 700 pessoas estiveram presentes nas atividades sociais da Marista Recife.
De acordo com a professora Angélica, os alunos procuram a direção da Faculdade após as atividades e relatam experiências como a de que antes de participar pensavam apenas em contar as horas para atividade complementar e depois passaram a ver a atividade e a si mesmos com mais responsabilidade social. No ano seguinte, muitos regressam e trazem mais alunos para participar com este olhar de que podem fazer muitos benefícios com tão pouco. “É um feedback importante, porque prezamos o engajamento social”, assinala.
Durante o curso, o aluno de Direito e Administração precisa de cerca de 200 horas de atividade complementar e as ações sociais são formas de somá-las, mas, de acordo com a coordenadora, “observamos que acadêmicos de Recursos Humanos e Informática também participam mesmo sem receberem horas de atividade extraclasse”.
Para as instituições de ensino superior integrantes do Grupo UBEC, a extensão é a face social da formação acadêmica e propicia que profissionais-cidadãos ingressem no mercado de trabalho ainda mais capacitados a antecipar e a criar respostas às questões da sociedade.