É comum ouvirmos alguém comentar, ao se deparar com uma equação matemática, que desconhece as razões de ter aprendido “aquilo” na escola, uma vez que não a utiliza no dia a dia e após o período escolar, confessa ter esquecido de como aplicar ou explicar a tal equação.

Gerente acadêmico-pedagógico da União Brasileira de Educação Católica (UBEC)
Quem concorda com essa opinião, talvez nunca tenha avaliado que a casa em que mora, a empresa onde trabalha ou mesmo a rodovia onde trafega com seu carro existem porque há profissionais que aplicam aquela e outras equações para projetar e construir esses meios.
Ou seja, quem pensa que não utiliza a equação matemática “em nada”, está redondamente enganado. Mas, se essas mesmas pessoas críticas, no período escolar, tivessem compreendido melhor o conceito e a utilidade daquela equação? Se tivessem a oportunidade de vivenciar situações reais ou simuladas que traduzem a matemática? Com certeza, teriam outra visão.
E poderiam, quem sabe, terem se tornado profissionais que se valem da matemática para realizar seu trabalho em prol da sociedade. Quantos estudantes deixaram de seguir carreiras que dependem da matemática – engenharia, física – por causa dessa barreira de aprendizado em relação à matemática?
Este sentimento de “inutilidade” relacionado à equação pode ter sido despertado pelo método de ensino que ainda vigora na maioria das escolas, em que a interação com o conteúdo de aprendizado é uma ilustre desconhecida dos alunos. Tudo é praticamente resolvido dentro de sala de aula, com base no que o professor tem a ensinar com apoio dos livros e outros materiais escolares.
Há, naturalmente, unidades de ensino que conseguem intercalar o método tradicional com apresentações de vídeos, palestras, uso de laboratórios e visitas a ambientes externos. É um importante passo no caminho para a interação no aprendizado, algo que é fundamental para a formação escolar e não apenas um mero acessório.
Aliás, este é o desafio premente do gestor escolar e do docente: criar espaços interativos de aprendizagem. E há urgência nisso, pois a cada dia nos deparamos com estudantes desestimulados e com a aprendizagem defasada. O gestor escolar e o docente têm que entender a interação como sendo muito mais um processo de construção de conhecimento, de criação; de busca de metodologias ativas com espaços interativos que possibilitem a compreensão de conceitos por meio de vivências e práticas. A tecnologia é uma forte aliada para extrapolar o ensino do conteúdo até então limitado à sala de aula. Enfim é preciso reorganizar os espaços de aprendizagem. Quebrar o paradigma da diferença entre teoria e prática e buscar fazer a compreensão da teoria pela prática.
Estamos em um processo de transformação de modelos de ensino. Existem muitas resistências O modelo de escola que conhecemos é o do ambiente de silêncio, de sala de aula com carteiras enfileiradas, onde só se aprende uma coisa de cada vez e treinando, treinando e treinando. Aluno que ousar acessar o celular ou smartphone na sala é repreendido.
A interação do aluno das novas gerações com o uso desses recursos adicionais de aprendizado é mais rápida e o ensino acaba ocorrendo da forma diversa do tradicional: primeiro vem a prática e com ela o aprendizado do conceito.
Existem várias experiências de espaços interativos de aprendizagem. O que se quer é a inversão do processo de aprendizagem e sua dinamização para a proximidade com a realidade atual. Um exemplo inovador é o da Escola da Ponte, em Portugal, onde o conteúdo é ensinado em espaços interativos. Há aulas de química que são ministradas em uma cozinha. Ali o aluno vivencia a experiência da fermentação da massa de um pão, por exemplo, em vez de ler em um livro sobre do que se trata a fermentação. Assim, a assimilação do conceito é facilitada por meio da interação.
A geração de alunos que estão na escola de hoje nasceu conectada às novas tecnologias manifesta interesse por outro processo de aprendizagem, aquele no qual o ambiente de ensino também ‘saia’ da sala de aula e abra caminho, por exemplo, para o uso da realidade virtual (RV) e da realidade aumentada (RA), entre outros recursos.
Com a RV e a RA é possível que o aluno vivencie, por meio de filmes que permitem percorrer, por exemplo, o organismo humano, visualizar os órgãos funcionando em conjunto – algo bem diferente do que a limitação das imagens estáticas nos livros impressos.
Mas não é preciso ir tão longe, já que RV e RA são recursos caros para as escolas. Em Brasília, o CECB criou um espaço interativo para o ensino de matemática. As paredes são pintadas com elementos relacionados à matéria e há objetos igualmente úteis para abordar o tema, inclusive com análise da matemática na história da humanidade, como é o caso da construção das pirâmides, entre outros.
A matemática, em virtude de sua abstração, é uma das disciplinas mais difíceis para serem compreendidas pelo aluno. O ideal nesses casos é que a criança comece a ter contato com ela por meio dos objetos concretos até chegar à assimilação dos conceitos. Por meio da interação o estudante compreenderá melhor a utilização dos elementos matemáticos e sua presença na vida cotidiana. Além de criar espaços interativos na própria escola, a organização de passeios com as crianças já é uma excelente estratégia de aprendizagem em ambiente interativo. Uma ida ao zoológico, ao jardim botânico, ao cinema e a exposições – de preferência interativas – estimulam o estudante a perceber os diferentes ambientes, climas, vegetação, a conviver com diferentes animais e outras realidades. Esta vivência é muito mais significativa do que o restrito contato com o professor e os livros.
Se a criança não vivenciar, não viajar, se não perceber e sentir as diferenças entre os ambientes externos, ela não vai ter elementos para sair da abstração e aplicar aquilo que se aprende na escola em seu cotidiano. Por isso a vivência significativa nos espaços interativos vai ajudar muito na construção do conhecimento e na formação integral da pessoa humana. Os espaços interativos têm que ser pensados para tratar a educação como um todo. Tais espaços são importantes porque os conceitos são ‘vazios’, quando ficam apenas no nível da teoria. Quando você vivencia, então dará sentido para aquele conceito. Dando sentido, a aprendizagem acontece.
Elementos da tecnologia nos ajudam neste esforço e também a ampliar e a aperfeiçoar os espaços interativos de aprendizagem.
E o professor tem que estar atento e se capacitar às novas demandas trazidas pelo estudante. Com acesso a múltiplas plataformas de conteúdo, principalmente, via web, o aluno é impactado por informações, muitas vezes, pobres, superficiais e até equivocadas. Cabe aos professores tratar desses temas, mas adicionando a eles o conhecimento científico. Senão o aluno fica sujeito a uma enorme quantidade de informações banalizadas; o conhecimento, por ser superficial, passa a ser banalizado.
É preciso muita atenção e cuidado com este tipo de situação. À medida em que os educadores voltem cada vez mais atenção aos espaços interativos de aprendizagem, desde os primeiros anos de escola, superaremos este e outros problemas que afetam negativamente os indicadores de Educação no Brasil. Portanto, o esforço precisa ser conjunto, os gestores precisam oferecer melhores condições de acesso aos meios tecnológicos e os professores estarem em constante aperfeiçoamento de suas práticas.
Fonte: Blog ABMES