
Foto: Teuller Moraes/Unileste
Concluir a faculdade com mais do que um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e uma ideia empreendedora na cabeça. A vida acadêmica de Lúrima Uane Soares Fria e Filipe Souza Almeida começou a se encaminhar para um roteiro animador, desde o final do ano 2015, agregando vivência e reconhecimento às ideias colocadas em prática.
Enquanto pensava em um projeto significativo para desenvolver na faculdade, Filipe, então estudante do 6º ano de Engenharia Química do Unileste (MG), assistiu a uma reportagem na televisão sobre quanto o lixo eletrônico é problemático para o meio ambiente e a falta de soluções para este descarte no Brasil. Não dispomos de grandes empresas preparadas para o tratamento deste material, concluiu o estudante levantando que existem microlocais para recolhimento de lixo eletrônico com nada de controle sobre os danos ambientais causados. Nosso lixo é enviado para Alemanha, onde há empresas que tratam desses materiais. Foi então que os colegas se questionaram: porque não estudamos e desenvolvemos um método de reciclagem deste lixo como engenheiros químicos? E iniciaram a busca da solução e sua execução.
Conforme Filipe, tudo acontece por meio da hidrometalurgia, onde o e-lixo transforma-se em um líquido colorido, fase em que os metais são separados e faz-se a filtragem da solução, bem como a precipitação do metal por meio de uma concentração, aquecimento ou eletrólise. É um garimpo aquoso em laboratório, onde a certeza de encontrar metal nobre, puro e de qualidade é de 100% resume o estudante do Unileste.

Foto: Filipe Souza Almeida /Unileste
Orientação qualificada – Com a ideia de tratar lixo eletrônico evitando danos ao ambiente, os alunos procuraram os professores Leonardo Ramos Paes Lins, de química orgânica e bioquímica e Ricardo França Furtado da Costa, de química inorgânica e analítica, coordenadores de pesquisas do Unileste. “Eles nos apoiaram para fazer testes e tentar algo. Então, começamos o projeto. Estamos seguindo por partes, porque é complexo extrair metal do e-lixo”, reconhece Filipe.
O professor Leonardo Ramos conta que os alunos o procuraram para desenvolver um projeto de investigação científica visando preservação ambiental e propuseram o desenvolvimento de um método que recuperasse metais presentes em placas eletrônicas. É uma disciplina que não tem no currículo, destaca Ramos, e “partimos para a montagem do projeto em conjunto para enviar à FAPEMIG (Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais) na tentativa de conquistar uma bolsa de estudos para dar continuidade à investigação”.
Durante o processo de busca de recursos, assinala o professor, foi publicado o edital para o Prêmio Sustentabilidade Radix. Lúrima e Filipe inscreveram-se como acadêmicos do Unileste. Deste certame, eles saíram vencedores com um prêmio de R$ 10 mil, valor que vão integrar ao projeto de pesquisa e permitir que haja uma aceleração nos resultados, segundo relataram.
“O Unileste tem um laboratório muito bem equipado. Só estamos conseguindo fazer tudo isso, porque o laboratório é bom e nossos coordenadores são excelentes no tema”, frisa Filipe ao comentar que mesmo diante da infraestrutura existente há equipamentos que são específicos para esta investigação, os quais irão adquirir.
“Se não fosse pelo professor Ricardo França, doutor em química inorgânica, a gente não teria saído do lugar”, diz o investigador contando que havia uma ideia, “mas com tantas falhas que, se não tivéssemos a colaboração de um mestre, perderíamos muito tempo e recursos errando”.
Sonho e ação – Os resultados em laboratório e no mercado, com a premiação, já permitem aos envolvidos no projeto pensarem em um tema para ser aprofundado em mestrado e doutorado e na constituição de uma empresa, ainda um sonho. Eles imaginam que poderia ser uma incubada no Unileste. A ideia deverá ser trabalhada no primeiro semestre deste ano.
Filipe já avalia as consequências de levar adiante o projeto como um empresário de visão. “Não há como fazer um descarte de lixo eletrônico seguro, sem danos, a quantidade de diferentes metais é muito grande e eles se fixam no ambiente, contaminam e este problema se perpetua gerando um ciclo que chega até o homem” observa. O desenvolvimento do método de separar os metais preciosos do lixo eletrônico e devolvê-los como matéria prima para o mercado é uma alternativa, queremos aproveitar até os polímeros, os plásticos.
Se isto não for feito, o estudante entende que “estamos jogando fora um dinheiro que poderia estar circulando no País ou permitindo que circule em outros países”. Ele também faz um alerta de que há muita peça eletrônica utilizada nos computadores e telefones que não é fabricada no Brasil, “então estamos trazendo ouro para o País e jogando fora. Se conseguirmos colocar estes metais de volta no mercado brasileiro, estaremos gerando uma nova riqueza para o País, um novo tipo de indústria e novos empregos”, diz ao lembrar que este foi um dos argumentos utilizados para defender o prêmio Radix.

Foto: Filipe Souza Almeida /Unileste
Tudo se originou de uma preocupação ambiental e a utilização da hidrometalurgia com esta finalidade é inédita, comenta o professor Leonardo Ramos. Ele explica que tudo fica dissolvido em um meio aquoso e cada metal é precipitado separadamente. Na química analítica, conta, muitos processos são feitos assim. A ideia da equipe é recuperar o descarte de forma que não cause danos ambientais para que o material recuperado possa ser comercializado. A matéria prima deste processo é o lixo eletrônico. Mas, conta o professor, trata-se de um processo até caro e a viabilidade econômica será avaliada a partir deste ano.
Filipe explica que tudo é feito em escala laboratorial, pequenas quantidades. Ele conta que para chegar ao resultado obtido até agora, o máximo de solução foi de dois litros. Nesta solução foram recuperados 1grama de ouro 24 quilates e 50 gramas de cobre. “O que concluímos é que isso não é tudo o que conseguiremos tirar, porque nos testes fizemos muito coisa errada e perdemos material”, calcula.
O material de descarte utilizado são placas de computadores e de telefones especialmente. Filipe relata que enquanto desenvolviam o experimento, viram que não tinha somente ouro e cobre no material e começaram a trabalhar para recuperar todos os metais de possível valor sem gerar nenhum impacto ambiental de maneira que o descarte seja água e um sal sem dano ambiental , o que está sendo possível com a orientação de outra mestre do Unileste, a professora FULANA. O mais difícil é tirar a platina, que além de complicada está em menor quantidade. Entre os equipamentos que o grupo pretende adquirir com o valor recebido na premiação estão equipamentos e peças para fazer equipamentos e tentar recuperar a platina do lixo eletrônico. “O que eu e Lurima estamos montando contém todos os processos de uma indústria. Isso pode ser nosso TCC, o início de um mercado, um tema de mestrado, sabemos que vai ser muito importante para nossas carreiras”, conclui.