Ícone de Acessibilidade - Aumentar Fonte
Ícone de Acessibilidade - Reduzir Fonte
Pesquisar
Feche esta caixa de pesquisa.

UCB depois dos 40

GilbertoGarcia_Faiara Assis (3)
UCB programa novidades para 2015, adianta reitor

Criada em 1974, pouco tempo depois da inauguração da nova capital do Brasil, a Universidade Católica de Brasília (UCB), ao lado de outros setores produtivos, também responde pelo esforço conjunto da consolidação de Brasília. A cidade crescia e as carências se avolumavam. Formar profissionais para as diferentes áreas da capital de exigências imediatas era imprescindível. Nesse ambiente, começa a História da UCB com a Faculdade Católica de Ciências Humanas (FCCH) ministrando três cursos: Economia, Administração e Pedagogia, além de expectativas e compromissos com a comunidade local. O tempo passou, atravessamos o século 20 e a Católica, universidade reconhecida pelo Ministério da Educação como tal desde 1994, segue comprometida com a qualidade e com a atualização ágil diante dos cenários de transformações que o mundo impõe às organizações. 

A Católica depois dos 40 anos é o foco desta entrevista com o reitor Gilberto Garcia, que conduz a Universidade há menos de um ano e projeta uma UCB comprometida com a missão católica e com o valor do profissional no mercado. Afinal, a UCB é uma comunidade que integra diariamente escolhas e objetivos de vida de quase 20 mil pessoas diretamente, entre alunos, professores e funcionários.

A UCB oferece para a sociedade 37 cursos de graduação presenciais (bacharelado e licenciatura), diversos programas de pós-graduação lato sensu (especialização), nove programas de pós-graduação stricto sensu de mestrado e cinco de doutorado. No ensino a distância, dispõe de polos credenciados nos 27 estados da federação e no exterior. Entre os cursos presenciais, oferece ainda programas para formação de tecnólogos e especializações in company com conteúdo específico para alavancar conhecimentos em organizações empresariais. Todo este conjunto de formação e aprimoramento de conhecimento mantém-se em avaliação permanente não somente pelos órgãos governamentais, mas pela própria Universidade, que se preocupa em estar sintonizada com as exigências da sociedade, considerando sua sede no Distrito Federal e seu alcance mundial diante das condições que nos apresenta o século 21.

Como presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), pelo próximo biênio, o reitor enfrenta duplo desafio e quem usufrui desta agenda de diferentes compromissos do filósofo Gilberto Garcia são as comunidades que estão sob sua atenção. A seguir, ele fala sobre os rumos da UCB e como a educação é pensada no Brasil considerando o cenário mundial.

UBEC – Qual é a UCB que a comunidade acadêmica e a sociedade podem esperar a partir dos 40 anos?

Gilberto Garcia – Com uma trajetória reconhecida sobre a capacidade de responder às demandas, penso que a Católica já pode inverter este processo e gerá-las. A UCB pode ser indutora de desenvolvimento, por meio de seus cursos, saindo do eixo convencional, ligando-se à inovação tecnológica, à pesquisa em áreas diferenciadas como a zootecnia e a agronomia. Hoje, devido à pesquisa, temos condições de atrair um perfil de estudantes que buscam a inovação. Geograficamente pensamos em atender uma área além do Distrito Federal.

A instituição precisa observar os movimentos sociais e mercadológicos com inteligência estratégica de forma a atrair e propor novos cursos. É fundamental estarmos atentos, porque vivemos uma fase da educação brasileira na qual os cursos tradicionais perdem força de oferta em função da geração de cursos híbridos, interdisciplinares. Importante lembrar que a formação de tecnólogos, uma nova fronteira, está inserida neste cenário. Também os cursos de engenharia e inovação, que formam profissionais dos quais o País precisa, pedem novo olhar.

Como toda a instituição de certa magnitude no Distrito Federal, a UCB está em processo de amadurecimento e de conquista de seus espaços. Apesar de toda a contribuição já entregue à comunidade e de figurar, ao lado da UnB, entre as únicas universidades da capital do Brasil, ainda vivemos o momento de encontrar identidade nos cenários, porque não depende só da UCB atingir todas as metas. Sediada no Distrito Federal, a Universidade vive mudanças em alta velocidade, a região contabiliza um crescimento populacional vertiginoso e, nessa esteira, há mudanças de perfil populacional impactantes. Nesses 40 anos, a UCB inseriu-se em diversos cenários. Quando se instala, Brasília era burocrática, ligada à administração da União, com poucos serviços no setor terciário e um setor secundário incipiente. Neste contexto, a força era da União e a sociedade ainda era influenciada pela cultura do Rio de Janeiro. Imperavam cursos voltados ao serviço público, relacionados às ciências sociais aplicadas – Economia, Administração, Ciências Contábeis e Direito. A Católica chega com novos propósitos, cursos de licenciatura, ligados à missão e tradição das instituições religiosas, não respondendo somente à burocracia local e começa a atrair, ao lado a UnB, população de outros estados.

UBEC – E em 2015, na Católica, o que se pode esperar?

Gilberto Garcia – A UCB está retomando-se. Este é um ano de revisão da instituição. É um ano em que vamos construir o planejamento estratégico, rever o estatuto, redefinir a estrutura da instituição, seu organograma.  É um ano de arrumação.

Para que avancemos efetivamente neste processo de revisão, vamos contar com vários agentes, os quais já estão sendo chamados para o diálogo dentro da Universidade e para integrar os grupos de trabalho incluindo a participação da UBEC.

Toda a instituição de ensino tem agentes internos – a comunidade acadêmica, os alunos, os professores e os funcionários e agentes externos, a sociedade, os órgãos reguladores e a mantenedora. A Católica tem uma comunidade acadêmica muito forte, consolidada. Acredito que todos os agentes devem adequar o diálogo sob uma visão comum dos processos.

UBEC – A Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed) estima que o número de alunos neste modelo dobre em cinco anos no País e, até 2022, mais de um milhão de estudantes façam ensino a distância (EaD). Como a UCB considera este cenário?

Gilberto Garcia – Teremos novidades para o segundo semestre deste ano, na UCB, como parte do amadurecimento do ensino a distância.

No Brasil, o EaD estabeleceu-se dentro da lógica de expansão de mercado e as boas instituições de ensino só foram credenciar-se anos depois. Temos que amadurecer o EaD. Recentemente, no Conselho Nacional de Educação (CNE), criamos uma comissão, a qual integro, para estabelecer o novo Marco Regulatório para o EaD.

Na UCB, estamos reavaliando o EaD. O modelo em prática é antigo, relativamente caro, pesado e sem muita força de captação. Para o segundo semestre, teremos novidade para oferecer, contando com mais agilidade operacional e sempre mantendo a oferta de cursos de qualidade que caracteriza a Católica.

É importante frisar que, na avaliação do Enade, o EaD conta juntamente com os cursos presenciais, a nota não é discriminada. Assim, se a qualidade não for sustentada no EaD, o Enade dos cursos presenciais, indicador para o  índice de regulação cai. Ocorre um efeito cascata. É preciso cuidado, mas não podemos ser tímidos, temos que saber crescer com EaD, porque é o futuro.

Na Católica, hoje, é possível fazer EaD a partir de qualquer lugar do Brasil por meio dos polos credenciados. Os polos são as bases físicas que dispõem de professores, bibliotecas (referências), equipamentos. No EaD, o aluno obrigatoriamente tem que se referir a um polo por determinados períodos, é lei.

UBEC – De que forma a nova portaria do MEC, que determina o mínimo de 450 pontos no Enem e nota maior que zero na redação para um aluno inscrever-se no ProUni e pleitear um financiamento estudantil vai impactar no dia-a-dia das instituições de ensino privadas e da UCB?

Gilberto Garcia – As instituições de ensino superior vão encontrar soluções. Não acredito que o impacto será geral para organizações que não especulavam com os recursos do FIES.

Até 2014, o FIES representava em torno de 1,1 milhão de alunos no contingente de 7,3 milhões de matriculados no ensino superior (Censo de 2013). O FIES somado ao ProUni representa menos de 3 milhões num universo de 5,3 milhões de matriculados em instituições de ensino superior privadas. De outro lado, temos as IES públicas com 1,9 milhão de matriculados. Efetivamente pagantes são cerca de 40% dos alunos de ensino superior. O FIES, agora, modificou os prazos dos repasses de 1/12 para 1/16. Serão oito repasses por ano e estabeleceu a nota mínima em 450 pontos no Enem sem zerar na redação.

Estamos vivendo um momento de desenhos novos que criam cenários diferentes.

UBEC – As exigências atuais do mercado de trabalho estão em sintonia com a universidade no Brasil?

Gilberto Garcia – Uma parcela da universidade está em sintonia com o mercado. Mas temos que entender esta pergunta dentro de uma história recente de educação superior. Alguns querem apenas ter o diploma de educação superior, outros o querem para progressão em carreira pública. O percentual de pessoas com diploma de educação superior que atua profissionalmente na área de formação é pequeno no Brasil comparado à realidade de outros países, onde as pessoas e a universidade têm capacidade de cambiar rapidamente e responder às demandas do mercado. Aqui, os diplomados em cursos universitários que estão mais diretamente ligados às áreas de formação ainda são os professores com as licenciaturas. A avaliação do egresso é feita pela universidade brasileira e pelo MEC. Tanto o Ministério quanto a universidade têm interesse em saber onde estão seus alunos, mas o grau de retorno está em torno de 10%, o que é considerado bom.

Se observarmos a Alemanha, a escola técnica responde às necessidades da sociedade para alguns cursos. Lá, existe a reescolarização, um instrumento que permite atender demandas de mercado com rapidez. Enquanto no Brasil, as pessoas preferem ser bacharéis a ter cursos que as colocariam no mercado. Ainda vivemos este descompasso cultural de entender reais demandas.

Universidade Católica de Brasília
UCB em sintonia com o futuro

UBEC – Qual a finalidade do ensino superior no século 21?

Gilberto Garcia – A função da educação superior está muito ligada aos planos de desenvolvimento de Estado, sendo que as instituições particulares atendem mais as demandas da sociedade. Por esta razão, quando falamos em expansão do ensino superior é preciso cuidado. Expansão de que? Mais do mesmo? É preciso aumentar a diversificação da área de desenvolvimento.

É importante considerarmos que o ensino superior, no Brasil, é relativamente jovem comparado com outros países. As primeiras políticas vieram com a República Velha (1889-1930) e depois, só na segunda metade dos anos 30, no governo de Getúlio Vargas, repensou-se a educação superior brasileira. Nossa educação atendia a uma elite urbana, fomentada pela riqueza agrária. As universidades federais foram criadas somente na década de 30, quando também surgem as grandes universidades católicas, todas, porém, serviam à elite. Com 76 milhões de habitantes, nos anos 60, o Brasil tinha apenas 300 mil universitários. Nunca houve uma política concreta que visse a educação como fator de desenvolvimento nacional. Muito recentemente com a Constituição de 1988 e com a Lei de Diretrizes e Bases de 1996 (LDB) é que a educação passou a ser induzida pelo Estado em prol do desenvolvimento. Sendo assim, as universidades federais são braços concretos de planos de governo. Vimos isto no programa Ciência sem Fronteira (CsF) que mapeou as áreas de conhecimento nas quais o aluno deverá interagir no exterior, trazendo conhecimento.

UBEC – Como o senhor descreve nossas carências diante dos países que formam lideranças mundiais?

Gilberto Garcia Não podemos nos referir a países, mas a blocos, regiões do mundo e, neste ambiente, vários nos superam. Os europeus têm um processo de ensino, extensão e pesquisa muito mais consolidado, precisam minimamente de intervenção do Estado. Vamos encontrar países escandinavos que nem têm ministério de educação. Há agências acreditadoras ao invés do Estado. Quem legitima a qualidade da inglesa Oxford, muitas vezes, não é o estado inglês, mas uma agência a qual a universidade está filiada e lhe dá um selo de qualidade. Assim, o indicador de desenvolvimento da educação superior pode ser: menos intervenção do Estado, no sentido regulatório, e mais da sociedade. No Canadá, Estados Unidos e Austrália, embora não tenham universidades tão tradicionais, também se desenvolveram dentro dessa lógica. Já na Alemanha, quase todas as universidades são do Estado, mas não significa que seja regulador. No Brasil, tivemos uma inversão do processo. A partir dos anos 60, o represamento fez com que tudo crescesse desenfreadamente. Agora, o Estado precisa por ordem daqui para traz.

No entanto, a velocidade dos acontecimentos mundiais vai levar à formação de ilhas de excelência na universidade brasileira, as quais conseguirão responder rapidamente aos processos. Outras vão desenvolver pesquisas, alavancar programas e ter o poder de interferir no desenvolvimento com mais velocidade. E também terão os colegiões.

Quanto às lideranças mundiais, hoje, corremos o mesmo risco da Índia de formar cérebros para o resto do mundo com investimentos do Estado. Por esta razão é que o CsF e a pós-graduação stricto sensu estabelecem uma amarra. Se o Estado investe para o aluno estudar fora, é preciso haver a contrapartida: o aluno permanece no Brasil por um tempo determinado ou devolve o dinheiro.

UBEC – Em um cenário de educação com tantas críticas, como presidente do Conselho Nacional de Educação, o senhor acha possível concretizar projetos que ajudem a reverter o quadro em curto prazo?

Gilberto Garcia – Historicamente no Brasil, há um abismo entre política de educação superior e de educação básica. O problema originário deste processo é que, pela Constituição, temos competências distintas. A educação está muito ligada a competências de colaboração entre entes federados, municípios, estados e União. Municípios têm a responsabilidade pelo ensino fundamental, os estados pelo ensino médio e a União pelo ensino superior. Esta questão, ligada aos repasses para estados e municípios complica imensamente a política para educação básica quando levamos em conta que o Brasil é um continente com desigualdades sociais e regionais profundas. Já a educação superior encontrou um impulso vertiginoso de políticas públicas muito bem definidas. Hoje, 65% da educação superior no Brasil é custeada pelo Estado e permitiu muitas pessoas, que jamais imaginariam acessar o ensino superior, cursarem faculdades.

O CNE elegeu a educação básica para este biênio como prioridade política e vai atuar com ações indutoras em parceria com o Legislativo e o Executivo. Muitos eventos pautados para 2015 e 2016 vão priorizar audiências públicas, seminários, fóruns, grupos de trabalho, reuniões técnicas para discutir e propor aos agentes competentes ideias de melhoria. Nosso desafio é fazer funcionar uma boa política de educação em regime de colaboração em um país tão grande.

UBEC – E de que maneira as escolas confessionais podem trazer ganhos de qualidade neste processo de melhorias?

Gilberto Garcia – Sempre trouxeram, mas o percentual de instituições católicas no ensino básico do País não chega a 6%. Estas instituições católicas destacam-se, porque são oásis de excelência e a elite estuda nelas. No ensino superior, a representatividade é um pouco maior em consequência dos programas de acesso do governo. Quando não existiam os programas, as escolas confessionais também concediam bolsas de estudos no ensino superior, mas em uma proporção muito menor. Temos contribuído mais com a qualidade do ensino do que com a inserção social quando comparado ao efeito das políticas sociais atuais.

UBEC – Como presidente do CNE e integrante do Grupo UBEC qual o seu recado para a comunidade UBEC alinhar-se com o futuro da educação?

Gilberto Garcia – Mundialmente somos transversalizados por vários tipos de crises, entre as quais a econômica. Os desafios são de diferentes níveis e 2015 apresenta situações de um país globalizado em pleno metabolismo econômico e social. É fundamental estar atendo às análises de cenários e alinharmos nosso tempo com o tempo do mundo. Não podemos ficar esperando. A UBEC também tem mostrado esta preocupação, entrou na política de governança corporativa, busca outro ritmo, o Conselho de Administração reúne-se mensalmente como em uma empresa moderna, está atenta aos cenários e responde rápido.

Outro aspecto importante é promover o diálogo entre os agentes que fazem parte da UBEC. Entenda-se que o agente é todo mundo, o aluno, o funcionário, a sociedade. É preciso manter esses canais desobstruídos.

Por último, ressalto que a transparência dos processos é um fator preponderante para estarmos alinhados com a atualidade.

Fotos: Faiara Assis / UCB  e Foto: Alberto Ruy / UBEC

Notícias Recentes

Encontro Nacional de Coordenadores de Educação Básica 2025

Encontro Nacional de Coordenadores de Educação Básica

Faça Bonito

Faça bonito de verdade!

robert-prevost-papa-leao-xiv (1)

Habemus Papam!

Assembleia (4)

Assembleia Ampliada da UBEC 2025

Compartilhe:

Pular para o conteúdo